
O interesse por inteligência artificial disparou nos últimos anos. A procura por formação cresce em ritmo muito mais rápido do que a oferta das universidades. Além disso, um retrato externo ajuda a dimensionar o tamanho do desequilíbrio: nos Estados Unidos, 57 milhões dizem querer aprender IA, 8,7 milhões já estão estudando e apenas 7 mil fazem isso em cursos com crédito acadêmico. Portanto, o recado serve para o Brasil também. O interesse é massivo, mas a oferta formal ainda é pequena.
Por que isso é importante?
A inteligência artificial já se tornou competência transversal no trabalho. Ela atravessa setores como o agronegócio, a saúde, a indústria e os serviços. Para o Brasil, alinhar ensino superior à demanda significa ampliar empregabilidade, produtividade e inovação. Do mesmo modo, o país possui a Política Nacional de Educação Digital, que orienta competências digitais e pode ancorar currículos, extensão e certificações em trilhas formativas.
Sem resposta do sistema universitário, o vácuo é rapidamente ocupado por cursos livres. No entanto, esses cursos muitas vezes ficam desconectados do diploma e da pesquisa. Por isso, a ausência de protagonismo acadêmico representa risco de fragmentação da formação e perda de lastro científico.
O que está em jogo
Três gargalos travam a expansão: docentes, infraestrutura e desenho curricular. Em primeiro lugar, ainda faltam professores com experiência aplicada. Em segundo lugar, o acesso consistente a computação de alto desempenho continua restrito. Ao mesmo tempo, o mercado pressiona cada vez mais. Como resultado, as vagas que pedem IA no Brasil quase quadruplicaram entre 2021 e 2024, segundo o AI Jobs Barometer da PwC.
Por outro lado, se a universidade não lidera, a formação se fragmenta fora do sistema, sem validação acadêmica e sem pesquisa orientada. Dessa forma, o país perde a chance de alinhar inovação tecnológica a necessidades locais e a políticas públicas.
Como responder a esse desafio
Há caminhos viáveis para acelerar. Em primeiro lugar, criar trilhas transversais de IA que qualquer aluno possa cursar, com microcertificações validadas pela instituição e integradas ao histórico. Além disso, abrir ênfases e novas graduações onde fizer sentido pode ampliar rotas formativas, conectando disciplinas a projetos reais, dados concretos e problemas locais.
Ao mesmo tempo, é necessário amarrar residência tecnológica, extensão e parcerias com empresas para garantir aplicação prática. Portanto, no campo da infraestrutura, convênios e nuvem acadêmica podem viabilizar acesso a GPU, enquanto docentes e técnicos recebem atualização constante em ciclos curtos.
Assim, a avaliação deve focar no que importa: inserção profissional, projetos entregues, produção aplicada e pesquisa voltada a desafios nacionais. Em síntese, alguns sinais de avanço já aparecem. Universidades públicas como UFPE, UFPR e UFPA anunciaram cursos de bacharelado em IA em 2025. Ainda assim, o desafio agora é escalar e acelerar.
O que você precisa saber
O interesse por IA é massivo, mas a oferta formal com crédito acadêmico ainda é pequena.
O Brasil tem base legal via Política Nacional de Educação Digital para organizar trilhas e certificações no ensino superior.
A demanda do mercado cresceu rápido: vagas que pedem IA no país quase quadruplicaram entre 2021 e 2024, segundo a PwC.
Universidades públicas já se movem com bacharelados em IA, mas em escala limitada. Ampliar rotas transversais e parcerias é urgente.